segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Virginia Satir e a congruência pessoal


Quando estudamos as origens da Programação Neuro Linguística, o nome de Virgínia Satir (1916 - 1988) surge de imediato como uma referência incontornável. Aprendemos que foi uma respeitada e talentosa terapeuta familiar e que foi do seu trabalho que a PNL modelou o Meta Modelo da Comunicação, um tema tão importante e tão grato aos seus praticantes.
Sabemos que são dela muitas das técnicas de colocação de perguntas que pretendem minimizar as omissões, as distorções e as generalizações que todos fazemos quando avaliamos o mundo. Aprendemos ainda que ombreou, graças aos seus excelentes resultados junto de famílias disfuncionais, com nomes igualmente sonantes na terapia como os de Milton Erikson e Fritz Pearls. Identificamos a sua assinatura em alguns dos pressupostos adoptados pela PNL, vemos a forma como trabalhou o modelo do Iceberg de Freud e o que nele acrescentou. Vemos ainda a aplicação prática dos seus ensinamentos no “Trabalho de Partes”.
Na verdade, o longo trabalho desta notável psicoterapeuta norte-americana está na origem não só da PNL, mas também do trabalho sistémico, hoje em dia extremamente popular em todo o mundo pelos seus inegáveis resultados. Quem está familiarizado com aquilo que se faz actualmente nas Constelações Familiares e Organizacionais encontra de imediato os frutos das árvores cujas sementes ela deixou tão fortemente implantadas no solo do desenvolvimento humano. Autora de Modelos que explicam a mudança e o processo que lhe está subjacente, deu um enfoque muito especial ao desenvolvimento da auto-estima e da noção de valor pessoal.
Baseando a sua abordagem em princípios altamente humanistas, Virginia Satir acreditava que a mudança é possível, que somos manifestações vivas e dignas de amor de uma força vital, que se crescemos com as diferenças, também nos conectamos com as semelhanças. 
Vinda de uma família com algumas disfunções, foi obrigada desde muito cedo a criar os seus próprios mecanismos de sobrevivência, mostrando com o seu exemplo de vida aquilo que procurava catalisar nos outros. Na base do seu trabalho está uma premissa extremamente significativa: “o problema não é o problema, mas a forma como lidamos com ele”. Seguindo esta linha de pensamento, ofereceu ao mundo aquilo que ficou conhecido como o Modelo de Validação Humana, cujo propósito é “criar paz dentro das pessoas, entre as pessoas e à volta das pessoas”.
Tal como a formiga no carreiro, trabalhou incansavelmente para, através da cura das famílias que a procuravam, promover o bem-estar e o equilíbrio no mundo. Pensar global, agindo localmente. Ensinou a congruência, a liberdade e a responsabilidade pessoal.
Quase 30 anos volvidos sobre a sua morte, o seu trabalho é hoje, mais do que uma filosofia apenas actual, uma prática de vida urgente e necessária.
Felizmente, deixou muitos seguidores. Deixo-lhe a minha respeitosa e grata vénia de reconhecimento. 




terça-feira, 29 de março de 2016

Escuta selectiva e modelo de comunicação










Um casal italiano, em viagem pela Inglaterra, encantou-se com uma bela casa de campo, propriedade de um pastor inglês. Entraram em contacto com o pastor e ficou combinado que lhe alugariam a casa para passarem lá o verão seguinte com a família. 

Já em Itália, o casal começa a contar, entusiasmado, aos filhos, o acordo feito com o pastor inglês e os detalhes da sua encantadora propriedade. É aqui que a senhora italiana se apercebe de que não se lembrava da localização da casa de banho e das comodidades que esta oferecia. Sendo a sua família numerosa, eram precisas, pelo menos, duas casas de banho. Preocupada, escreve imediatamente uma carta ao pastor.

A carta continha o seguinte conteúdo:

“Prezado Pastor:
Ao voltarmos para casa, surgiu-nos uma dúvida que gostaríamos que o senhor amavelmente nos esclarecesse: onde fica o W.C. e que conforto nos pode oferecer? É que somos uma família numerosa e este detalhe é da maior importância para todos nós.
Na expectativa das suas prezadas notícias, envio-lhe os meus respeitosos votos.
Rita Bianchi”

O pastor, ao receber a carta da senhora italiana, e supondo que W.C. fosse abreviatura de White Chapel (“capela branca”, o templo religioso mais próximo da propriedade), respondeu prontamente e da seguinte maneira:

“Prezada Senhora,
Deu-me imenso prazer receber a sua carta e espero esclarecer a contento a sua dúvida. O local que me refere fica a apenas 12 quilómetros da casa. Trata-se de um espaço amplo, que acomoda 200 pessoas sentadas e mais 100 em pé. Aconselho que a senhora chegue cedo com a sua família, para garantir um lugar sentado. Algumas pessoas costumam levar lanche para assim poderem passar ali algumas horas.

À entrada são distribuídas folhas de papel para as pessoas. Caso não haja folhas para todos, não há problema, pois uma pessoa pode usar a folha, partilhando-a com o vizinho. À saída, todas as folhas são devolvidas para que possam ser utilizadas por outras pessoas ao longo de todo o mês.

O ambiente está decorado com assentos de veludo vermelho e amplas janelas, que permitem a visualização dos jardins verdejantes que ficam em redor. Há ainda amplificadores de som instalados em pontos estratégicos, que possibilitam a propagação do som para toda a vizinhança.

Se a senhora tem o hábito de ir a este local com frequência, recomendo a utilização de bicicletas, que estão guardadas na garagem da casa e terei todo o gosto em emprestar.

Costumamos contratar fotógrafos dos jornais locais para registarem a passagem e a permanência das pessoas no cumprimento de uma função tão humana.

Muito cordialmente, envio-lhe, a si e a toda a sua família, os meus mais sinceros cumprimentos, esperando vê-los por cá muito em breve”.
Assina: John Smith

sábado, 13 de junho de 2015

Como vai isso de amores?




Gosto de gente resiliente, que se desafia e vai em frente. Gosto de gente íntegra, que se questiona e reinventa. De gente que nunca diz, para se desculpar, que “é assim a vida”, ou “no meu tempo…”, “ou que vai andando….”. 

Gosto de gente que se empenha em viver para além do “mais ou menos”, para quem o estar apenas “quase” vivo, não é opção. 

Gosto de gente que sendo forte, também acolhe a sua vulnerabilidade. Gosto muito de gente que se faz útil e contribui, de facto, para algo melhor. Que tem uma pegada humana positiva e diferenciadora. Que verdadeiramente se importa com o que acontece e se implica.

 E que para isso sabe que se calhar terá que aprender qualquer coisa nova todos os dias, fazer correcções de rota, por pequenas que estas sejam, para ser possível aproximar-se das pistas em que quer aterrar. Aterrar com convicção, com energia e com integridade. 

Gosto de gente a sério, que chora e que ri, com recursos internos e que também tem dúvidas e medos e hesitações e pudores. Isso torna-as, pelo menos aos meus olhos, mais humanas.

E a humanidade nas pessoas, a sua bondade, a sua capacidade de se partilharem com os outros e com o mundo, de peito franco e aberto, livre de agendas ocultas ou interesseiras parecem-me aspectos absolutamente viscerais para o mundo a que quero pertencer.

A PNL, um dos meus assumidos amores e um daqueles que acontecem logo à primeira vista, debruça-se sobre estas questões e sobre o impacto que estes pilares identitários têm na construção da nossa realidade. Chama-lhes Valores, na maior parte das vezes. Outras vezes, Crenças ou Convicções. Coloca-os na base da investigação de muito do que nos move e/ou paralisa em termos de escolhas, decisões, atitudes, comportamentos. Porque fazemos nós afinal o que fazemos? Porque não fazemos o que escolhemos precisamente não fazer?

Interessantes questões, estas, para a esmagadora maioria das pessoas que encontro em formação ou atendo em sessões de coaching.

Quando vivemos com congruência em relação aos nossos Valores, quando expressamos através do que fazemos no nosso dia-a-dia aquilo que nos alimenta a nossa essência, a vida flui. A alegria instala-se e o equilíbrio pessoal acontece. Cada dia é uma nova descoberta e por muito desafiador que seja o que nos espera, há energia pessoal, combustível, motivação, foco. Quando, por medo, insegurança, muitas vezes até por aquilo que achamos ser uma forma de lealdade aos outros, fugimos do que no fundo somos, é natural que mais tarde ou mais cedo a nossa factura se torne elevada e até mesmo a qualidade do nosso sono se ressinta com essa falta de verdade para connosco mesmos. 

Vale a pena reflectir sobre isto: até que ponto vivemos em sintonia connosco próprios? Numa escala de 0 a 10 como estamos de amores no que toca aos nossos amores? Família? Trabalho? Carreira? Saúde? Lazer? Desenvolvimento Pessoal?

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Meta Modelo da Linguagem, Pescaria em Alto Mar




O que é a Linguagem? Como surgiu e para que nos tem servido? Que impacto podemos causar nos outros com ela? Até que ponto estamos conscientes do seu poder oculto, subliminar e muitas vezes inconsciente, nos nossos resultados e nos daqueles que connosco se relacionam?

Para a PNL as questões ligadas à linguagem verbal sempre foram de uma enorme importância. Datam dos seus primeiros passos enquanto ciência e arte, ainda nos anos 70, os estudos feitos em torno da mestria de actuação de nomes como os de Virgínia Satir, uma conceituada psicoterapeuta familiar, oriunda dos EUA (1916 - 1988). Muito ligada às constelações sistémicas, fica para a história a forma notável como ela conduzia as suas consultas. Através do questionamento sistemático e profundamente respeitoso do que ouvia, o que ela pretendia era criar insights; trazer o seu cliente até à essência do que estava a dizer, para fora de um quadro de referências apertado e redutor, causador de estados emocionais desfavoráveis. 

Modelado do trabalho terapêutico desta espantosa mulher e de um outro “monstro sagrado” da terapia, Fritz Perls, o Meta Modelo da Linguagem foi o primeiro grande material de estudo da PNL. Na prática, baseia-se na colocação de perguntas, alinhadas de forma criteriosa para assim tornar o mais claro possível para quem se encontra numa situação de falta de recursos internos, ou de impasse na tomada de decisão, as distorções, omissões e generalizações que possam estar a contribuir para um empobrecedor enviesamento mental. 

Nos cursos que eu própria dinamizo, gosto de comparar este processo com uma grande pescaria. Pesca de superfície e de profundidade, em alto mar; apanha de informação, de detalhes, de tudo o que é concreto, específico e tangível. Graças a esta recolha de informação do que estava a ser esquecido, tomado como universal ou simplesmente visto de forma retorcida e errónea, a  pessoa pode olhar para o assunto que a preocupa com muito mais clareza. E assim fazer melhores escolhas. Entre muitas outras, uma das intenções de Satir e Perls era acabar com o poder ilimitadamente… limitador, das afirmações tidas como definitivas e tantas vezes expressas pelos Quantificadores Universais. Estes são em PNL as palavras como “sempre”, “nunca”, “todos”, “nenhum”, “tudo”, “nada”, “ninguém”, entre outras, e que muitas vezes usamos de forma radical e hiperbolizada. Ou seja, sem admitirmos excepções. Exemplo: ”Ninguém valoriza o meu trabalho”.

O carácter definitivo e sem discussão de uma afirmação destas reduz a pessoa que nisto acredita a uma situação de impotência total. É como se não lhe fosse mais possível avançar dali para outro ponto.

Uma boa forma de “pescar” as excepções e abalar esta crença limitadora seria convidar a pessoa a ir em busca de situações no seu passado em que essa valorização até se manifestou, para assim se abrir uma brecha no bunker emocional em que ela, por isto ou por aquilo, se enfiou. “Em que momentos já sentiste que apreciaram o teu trabalho?” ou “O que é que tu já fizeste, especificamente, que agradou a alguém?”

Segundo Albert Mehrabian (1939-), um psicólogo de origem arménia muito ligado ao estudo da linguagem verbal e não-verbal, o discurso expresso pelas palavras tem apenas 7% de impacto no processo de comunicação humana. Parece pouco, se olharmos para os números a seco. 

O que é um facto é que esses 7% nos podem transformar em magos construtores ou em bárbaros destruidores da comunicação, pela forma como chegamos aos outros, apenas com aquilo que fazemos com as nossas palavras.
E porque isto de sermos mais especialistas nos outros que eles próprios, não me convence nem um pouco, deixo aqui um último ponto de reflexão. Que tipo de perguntas andamos a fazer também a nósi próprios?

Descubra as diferenças dos insights decorrentes de perguntas como: “Que mal fiz eu a Deus para merecer isto?” ou“ Porque raio é que aquele tipo me fez uma coisa destas?” e “O que é que eu aprendi com isto? e “Como é que eu posso usar essa aprendizagem no futuro?”. 

São imensas, certo?

domingo, 17 de maio de 2015

Ganhos secundários, chamadas de atenção e… atrapalhações!




Estou certa de que já todos ouvimos falar de histórias como estas:

Fulano de tal é, finalmente, convidado para falar publicamente sobre um tema que até lhe interessa e muito divulgar, mas, inexplicavelmente, perde a voz, fica doente ou tem uma quebra de tensão que o impede de subir ao palco;

Sicrano sabe muito bem que aquilo que continuamente faz não funciona e até lhe traz doses maciças de dissabores, mas insiste em… persistir …. Impedindo-se de mudar de rumo, para espanto de todos aqueles que o rodeiam;

Beltrana sente-se mal, está doente e apresenta sintomas que a obrigam a um tratamento prolongado. Apesar das melhoras graduais que o seu caso regista, sempre que está com os amigos desfia um interminável rosário de desgraças e escalpeliza os incómodos que sente, em vez de ir prestando atenção ao que se vai alinhando e harmonizando no seu corpo.

A lista de ocorrências desta natureza poderia continuar indefinidamente. Estariam nela também as inúmeras situações em que alguém que aparentemente até defende um postulado, a seguir apaga tudo ao acrescentar um demolidor… “pois, está bem, mas...”

O que estará por detrás deste(s) comportamento(s)?

Quanto haverá de auto-sabotagem neste processo?

Até que ponto estamos conscientes de que o fazemos contra nós?

O que nos mantém na vivência contínua deste drama? Muitas vezes, os ganhos secundários, que nem sempre são conscientes para nós e nos causam grandes atrapalhações.

Podemos não subir ao palco para ouvir os aplausos que receberíamos depois da palestra; “escolhemos” continuar a colher o que não desejamos; expomo-nos a estados de doença mais penosos e prolongados do que o que seria eventualmente necessário porque, apesar disso, do outro lado da balança, está algo que valorizamos e tem um peso ainda maior. Os tais ganhos podem ser aspectos como: a atenção que nos dispensam; o carinho que nos oferecem em solidariedade pelo nosso infortúnio; a companhia que nos fazem, a pena que de nós sentem, a segurança, o conforto pessoal, o não termos que arriscar mudar e sair da nossa zona de conforto.

Enfim. Uma coisa é certa. Os tais ganhos não deveriam merecer este nome, porque na verdade o que fazem é limitar, na maior parte das vezes, o desenvolvimento do nosso potencial. Porque nos retiram poder pessoal, capacidade de intervenção, presença. Porque nos apagam e nos reduzem. E nos trazem mais do que não queremos ter.

Com a prática da PNL no nosso quotidiano, há um convite à expansão desses limites auto-impostos. Em vez de sermos meros observadores, passivos e muitas vezes pessimistas daquilo que nos acontece, aprendemos a ser intervenientes e protagonistas das nossas realidades. Saímos do Efeito para entrarmos na Causa e com isso aumentamos o impacto da nossa passagem pelo Mundo. Somos beneficiados e beneficiamos os outros.

Arriscamos outros voos!